sábado, 13 de outubro de 2012

Fundamentação do ser cristão no mundo: Jesus, Sacerdote, Profeta e Rei/Pastor



Jesus Cristo, Sacerdote, Profeta e Pastor

É impossível pensar a Igreja sem antes disto pensar o mistério da Encarnação do Verbo. Somente à luz de Jesus de Nazaré, o Verbo Eterno de Deus feito carne é que podemos pensar a nossa Igreja, sua Esposa e sua missão no mundo. Cristo é seu fundador e é quem a conduz até a consumação do tempo.
Apenas à luz da missão de Jesus é que a Igreja poderá entender a sua própria vocação e missão neste mundo. Ela deve continuar sua missão, alimentando-se do Seu corpo e sangue Anunciando a sua morte e proclamando a sua Ressurreição até que Ele volte. Jesus é verdadeiro Sacerdote, Profeta e Pastor, na unção do Espírito Santo, desde sua encarnação e por toda a eternidade.
Pela graça batismal, participamos da vida divina e nos tornamos filhos e filhas de Deus em Cristo. Por meio do Batismo todo cristão está relacionado estreitamente com Cristo e dele recebe continuamente a motivação e a ajuda para viver sua própria missão.

 Jesus, oferta perfeita e agradável a Deus;

Durante toda a sua vida terrena, Jesus fez questão de deixar claro que em tudo faria a vontade do Seu Pai, pois esta era para ele o próprio alimento, ou seja, o sentido de sua vida entre nós. Obediente à vontade do Pai, com quem vive uma perfeita comunhão, em tudo, menos no pecado, Jesus se fez um de nós. “Ele assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana” (Fl 2,7), sentiu as dores próprias da nossa condição humana, as nossas fraquezas, humilhações, angústias e sofrimentos. Embora “fosse Filho, aprendeu a obediência pelo sofrimento e se tornou para todos os que lhe obedecem princípio de salvação eterna” (Hb 5,8), e desta maneira, nenhuma dor ou sofrimento de nenhum homem na terra é desconhecida aos olhos de Deus pois em sua carne Ele traz as marcas da Paixão.  
“Jesus é o Filho de Deus, a Palavra feita carne (cf. Jo 1,14), verdadeiro Deus e verdadeiro homem, prova do amor de Deus aos homens. Sua vida é uma entrega radical de si mesmo a favor de todas as pessoas, consumada definitivamente em sua morte e ressurreição. Por ser o Cordeiro de Deus, ele é o Salvador. Sua paixão, morte e ressurreição possibilitam a superação do pecado e a vida nova para toda a humanidade” (DAp 102).
 O Seu sacrifício sacerdotal, próprio de toda a vida chega ao extremo no altar da cruz, onde Seu corpo traça entre céu e terra o sinal permanente da nossa Reconciliação com Deus. Depois de “ter oferecido um sacrifício único pelos pecados” (Hb 10,12), Ele entrou no santuário de Deus, como “mediador da nova aliança” (Hb 9,15), aliança firmada de forma absoluta por meio de Seu sangue. Pela obediência “até a morte”, e de uma forma mais aniquiladora, obediência até a mais temida morte de sua época: a morte de cruz!” (Fl 2,6-11), Jesus recebeu do Pai o título de Sumo Sacerdote (Hb 5,10). “Em tudo ele se tornou semelhante aos irmãos, para ser, em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e fiel, para expiar os pecados do povo” (Hb 2,17).
Por isso, Jesus possui por toda a eternidade (Hb 7,17), “um sacerdócio imutável e, por isso, é capaz de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus” (Hb 7,24-25). Cristo, sumo e eterno Sacerdote apresenta ao Pai a sua Igreja, santa, imaculada e irrepreensível, contanto “que permaneça alicerçada e firme na fé e sem se afastar da esperança do Evangelho que recebeu e que foi anunciado a toda criatura que vive debaixo do céu” (Cl 1,23).
Hoje por nós, para nós e conosco, Nosso Sumo Sacerdote continua a obra da salvação e da santificação por meio da ação litúrgica (cf. SC 7c). O sacrifício de Cristo realizado uma vez por todos no altar da cruz e o sacrifício Eucarístico são o mesmo sacrifício que redime e santifica a humanidade. A Eucaristia instituída por Jesus na noite em que reuniu os seus pela última vez, é um meio de tomarmos parte no mistério da Redenção.        Quando nos reunimos como comunidade para celebrarmos a Eucaristia, estamos cumprindo a ordem deixada por Jesus segundo a qual, devemos fazer isto em sua Memória. Quando comungamos, participamos do mistério do Deus que se fez homem e entregou a sua vida para nos salvar, e por Ele alimentados, somos chamados a segui-lo em espírito de humildade, amor e serviço.
A perene presença de Jesus na Igreja é para nós causa de paz e de alegria, esperança, certeza de reconciliação e de verdadeira aliança entre Deus e todos aqueles que estão reunidos em torno da Palavra e da Mesa onde Jesus se faz presente. Este Sacerdócio de Cristo se torna presente no sacerdócio ministerial, sem diminuir em nada a Sua unicidade. Ele é o único e eterno Sacerdote; os demais são seus ministros (CIC 1545). Por Ele é que o Espírito age sempre e se faz presente na Igreja, agindo nos corações dos discípulos para que tendo o coração aquecido pela Palavra que escutam, possam reconhecer o divino Mestre no pão que é corpo de Cristo e também no gesto solidário de partilhar o pão com os famintos de nossa sociedade.

Fundamentação do ser cristão no mundo: Jesus, Palavra Eterna do Pai e Alimento para o mundo



No capítulo que o Evangelho de João dedica à Eucaristia (Jo 6), Simão Pedro afirma que não poderíamos seguir a outro pois só Jesus “tem palavras de vida eterna”. O mesmo João afirma que “Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus” (Jo 3,34). É Jesus que realiza a obra de salvação que lhe é confiada pelo Pai. “Como discípulos de Jesus, reconhecemos que ele é o primeiro e maior evangelizador enviado por Deus (cf. Lc 4,44) e, ao mesmo tempo, o Evangelho de Deus. Cremos e anunciamos ‘a boa nova de Jesus, Messias, Filho de Deus’ (Mc 1,1). Como filhos obedientes à voz do Pai, queremos escutar a Jesus (Lc 9,35), porque ele é o único Mestre” (Mt 23,8), disseram os bispos reunidos em Aparecida (DAp 103).
Por meio de Seu amado Filho Jesus, Deus falou com a humanidade e mostrou a Sua face que até então ninguém havia visto (Jo 1, 18), a Ele, o Pai “fez herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo” (Hb 1,2). Jesus expressa em palavras e ações tudo aquilo que a Palavra de Deus contém. Cada ato d Jesus é expressão da vontade de Deus ao mesmo tempo em que dá a atividades humanas o caráter divino. Por ser Ele mesmo a “Palavra de Deus feita carne” é que tem “palavras de vida eterna” para nos comunicar.
Suas atividades sempre balizadas pelas Escrituras, fazem com que boa parte das pessoas o reconheçam como o concretizador das profecias. Nele, muitos viam “verdadeiramente, o profeta!” (Jo 7,40).  E envolvidos pela grandiosidade de suas ações, muitos davam glórias a Deus, dizendo: “Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou seu povo” (Lc 7,16). Até mesmo aqueles a quem o preconceito poderia afastar, como por exemplo, a Samaritana, reconhecem a grandiosidade de Jesus: “Senhor, vejo que és um profeta” (Jo 4,19).

“Jesus saiu ao encontro de pessoas em situações muito diferentes: homens e mulheres, pobres e ricos, judeus e estrangeiros, justos e pecadores... convidando-os a segui-lo. Hoje, segue convidando a encontrar nele o amor do Pai. Por isto mesmo, o discípulo missionário há de ser um homem ou uma mulher que torna visível o amor misericordioso do Pai, especialmente aos pobres e pecadores” (DAp 147).

Incansável anunciador do Reino de Deus, Jesus percorria toda a Galiléia, demonstrando o seu poder e sua intimidade com o Pai por meio dos muitos sinais que realizava ao longo do caminho:

“Percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo. O seu renome espalhou-se por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos os que eram acometidos por doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curava. Seguiam-no multidões numerosas, vindas da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e da região além do Jordão” (Mt  4,23-25).  

Ao entrar na Sinagoga de Nazaré, tomou para si o texto do profeta Isaías e apresentou a si mesmo como o concretizador das palavras sagradas: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para que dê a boa notícia aos pobres; enviou-me a anunciar a liberdade aos cativos e a visão aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, para proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-19). O coração da missão de Jesus está neste resumo apresentado por Lucas. Jesus veio ao mundo para anunciar o Reino de Deus; viveu cumprindo esta missão. E, para Jesus, anunciar não significa fazer um discurso; o anúncio é prática, é atitude, é fazer acontecer. É por isso que o evangelista declara: Passou fazendo o bem.
O Reino de Deus é o grande sonho de Deus para o mundo e a humanidade. É o Reino da vida e da liberdade, prometido por Deus e buscado intensamente pelo povo da Primeira Aliança. É o Reino da saúde e da reconciliação, da partilha e da abundância. Onde não há mais distinção entre as pessoas, nem excluídos. É o Reino do convívio amoroso e fraterno, da plenitude da vida para toda a humanidade e para a natureza, Reino que inicia aqui e se estende pela eternidade. Jesus anunciou e inaugurou este tempo do Reinado de Deus e entregou a tarefa da continuidade aos seus discípulos.
Para Jesus era importante deixar claro a gratuidade do anúncio, no despojamento total de quem não leva duas túnicas, nem cajado, muito menos dinheiro. Os seus seguidores, seguindo o seu exemplo, jamais podem se deixar envolver e dominar pelos bens deste mundo. Devem ser homens e mulheres verdadeiramente livres e purificados pela Palavra que foi dita pelo próprio Jesus (Jo 15,3).   Na generosidade dos discípulos, é refletida a generosidade do próprio Deus. “Na gratuidade dos apóstolos, aparece a gratuidade do Evangelho” (DAp 31): “Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias...” (Lc  10,4) O discípulo-missionário toma uma decisão a favor do Reino de Deus, em total conversão e mudança de vida, pois “quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62).
Sustentados pelas palavras de Jesus que são espírito e vida (Jo 6,63.68). Continuamente atuais na Igreja, somos chamados a testemunhar até o fim dos tempos a Boa Nova, continuando a missão de Jesus porque “somos missionários para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo e, nele, a boa nova da dignidade humana, da vida, da família, do trabalho, da ciência e da solidariedade com a criação” (DAp 103).
As palavras de Jesus serviram como censura a incredulidade dos sacerdotes, condenação a hipocrisia e a arrogância do comportamento farisaico, denúncia do rei e seus partidários (Mt 22,16-22),  condenação explicitamente do comércio da religião. “Entrou no templo e expulsou todos os vendedores e compradores que lá estavam. Virou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas: A minha casa será chamada casa de oração. Vós, porém, fazeis dela um covil de ladrões” (Mt 21,12-13).
Com suas palavras, vida e obras, Jesus é para sempre alimento para todos os que desejam encontrar sentido e alento, esperança e forças para buscar um mundo novo, que nas palavras do mestre é apresentado pelo nome de Reino de Deus. É Ele mesmo que ainda hoje nos convida ao discipulado e à conversão que é caminho para o Reino de Deus. Sua Palavra nos aponta o caminho para um mundo que parece desnorteado e perdido, verdade para um mundo que se acostumou a duvidar de tudo e se deixou engolir pelo relativismo e vida para a humanidade sedenta de sentido e de esperança, e por isso, esta Palavra que não é um conceito mas o próprio Filho de Deus,  precisa ressoar pelos quatro cantos da terra. Só é cristão quem se deixa interpelar pelo Carpinteiro de Nazaré e a cada dia abre seu coração acolhendo dele constantemente as sementes que diariamente são lançadas no terreno de nossas vidas!

Fundamentação do ser cristão no mundo: Jesus, o Bom Pastor



Jesus é o bom pastor que faz a oferta de sua própria vida por amor à suas ovelhas (Jo 10,11). Como pastor verdadeiro, Jesus se vê como responsável pelo povo que parece ovelha desamparada, se solidariza com este mesmo povo e o vê responsável pelo destino do povo. “Ao ver a multidão, teve compaixão dela, porque estava cansada e abatida, como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36). De uma forma muito especial, o olhar do mestre se voltou para as ovelhas abatidas, os pobres, marginalizados, os injustiçados, os rejeitados e os que são odiados por causa do seu nome (Lc 6,21-23).
Por onde passou, Jesus deixou semeada a semente da bondade. Curou os enfermos, expulsou o demônio, perdoou os pecados, lançando as bases de um mundo novo de justiça e paz. “Colocou-se ao lado dos indefesos, dos marginalizados, dos oprimidos e até dos estrangeiros e dos pecadores. Emprestou-lhes a voz, transmitiu força messiânica e a misericórdia do Pai. Com isto, agiu contra a marginalização e combateu um sistema de profunda exclusão social, econômica, política e religiosa” (CNBB Doc. 69, nº 27).
A vontade de Jesus é “que todos tenham vida, e vida em plenitude” (Jo 10,10). Movido por esta finalidade veio para as ovelhas perdidas, para reconduzi-las ao seu rebanho.  “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem. Mas tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; devo conduzi-las, também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10, 14.16).
Em sua forma de ser pastor, Jesus revela toda a sua realeza, é no servir, e no doar a vida em salvação por muitos, isto é, por todos (cf. Mc 10,45) que a verdade acerca do que significa ser Rei vem à tona. Neste Reino onde o Rei é o mesmo que apascenta o seu povo, a tônica vem do amor e este se estende até os inimigos, amor que perdoa com generosidade, demonstrando toda a coerência de sua fé (cf. Lc 6,27-49).
O bom pastor, transmite a sua autoridade a seus discípulos para que conduzam em Seu nome, o rebanho espalhado por todo o mundo, ao contrário dos lideres deste mundo, os pastores devem pastorear seus irmãos, com grande zelo, pois o amor do pastor a Cristo, expressa-se no cuidado que se tem pelas ovelhas. Descuidar das ovelhas é descuidar do amor ao Cristo de Deus como vemos no episodio em que o Ressuscitado interroga Simão Pedro acerca do amor (Jo 21).
É o mesmo Cristo que continua a motivar, animar, orientar, acompanhar, servir  e santificar o rebanho. Como Jesus Cristo é o Bom Pastor da Igreja, a vivência cristã no mundo se caracteriza pelo encontro e seguimento do Pastor que vai à frente de seu rebanho e nos conduz às verdes pastagens. Mas é desejo do Cristo ser o bom pastor de toda humanidade, é seu desejo encontrar a todos os homens e mulheres da terra, reunir a todos em um grande, rebanho e conduzir a todos em seu amor. Até que se consuma o tempo, a missão de Cristo Pastor continua em sua Igreja que diante de toda a instabilidade e incertezas do mundo deve ter sempre o mesmo olhar compassivo e amoroso para com todos, e de uma forma muito especial diante das angústias e sofrimentos que cercam as “ovelhas” do Senhor.

Fundamentação do ser cristão no mundo: Jesus, Bom samaritano da humanidade



Nada chama mais a atenção na atividade de Jesus do que as suas reações diante das pessoas que eram reconhecidas pela sociedade de seu tempo como pecadoras. “Ninguém te condenou? Tampouco eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8, 11). Todas as suas atividades e encontros trazem a marca do perdão e da misericórdia. Jesus modifica todo um modo de se relacionar com os que a sociedade rejeita. É claro que Ele não aceita o pecado, mas de jeito nenhum quer perder o pecador. “Eu não vim ao mundo para condenar, mas para salvar” (Jo 12, 47). No plano de Jesus há lugar para todos, ninguém é deixado de lado.
Como o samaritano da parábola contada por Jesus, sua capacidade de acolhida e compaixão se expressam de uma desafiadora diante dos mais fragilizados. Sejam estes pecadores públicos, doentes, endemoninhados, pobres ou excluídos. Chega a escandalizar a religião de seu tempo ao afirmar que sua vinda ao mundo foi justamente por conta destas pessoas: “Não vim para os sãos, mas para os doentes” (Mc 2, 17). Jesus não se cansa de mostrar que todas as pessoas sempre devem ter direito a uma segunda chance e que Ele, age como samaritano da humanidade reerguendo os que foram subjugados por uma estrutura de pecado. Para Jesus todas as pessoas podem se converter e Nele assumir uma vida nova (Mt 18, 21-22).
Do grupo constituído por Ele e reunido em Seu nome, Jesus espera as mesmas atitudes de acolhida e misericórdia. Quando estava para subir ao Pai, soprou sobre os discípulos o Espírito e lhes entregou a missão de perdoar os pecados (Jo 20, 22-23). 

Fundamentação do ser cristão no mundo: Jesus, vida de intimidade e oração com o Pai no Espírito Santo



Para que leve a termo a missão recebida pelo Pai, Jesus encontra forças na própria intimidade que possui com Deus: “Meu Pai e eu somos um” (Jo 10, 30). O jeito de ser de Jesus só pode ser interpretado à luz da relação trinitária. Tendo sido enviado pelo Pai, sendo constantemente assistido pelo mesmo Pai e pelo Espírito, Jesus deixa que o amor, que define a relação das pessoas da Trindade, modele e transpareça em cada ato e palavra sua. É próprio do amor trinitário a capacidade de dialogar que Jesus possui, um diálogo com os mais diferentes como Nicodemos que representa a ortodoxia Judaica, a Samaritana que representa o Judaísmo “herege”. Este amor também se expressa na ternura do mestre, que lava na mesma bacia os pés do discípulo amado e do traidor. Manifesta-se ainda na acolhida, segundo a qual Jesus apresenta a si mesmo como aquele que se deseja ser procurado por todos os aflitos para aliviar-lhes o peso (Mt 11, 28-31). Em sua misericórdia que é manifestada em seu coração de bom samaritano que age em favor do necessitado mesmo sem saber de quem se trata. Todavia, o amor trinitário também se expressa na radicalidade de Jesus, que entra no Templo e acusa os que lá se encontram de terem pervertido a razão de si da Religião. Em sua determinação que o sustenta na decisão tomada de subir a Jerusalém (Lc 9,51) e em seu ímpeto profético que o conduz anunciando o Reino e questionando com vigor a estrutura religiosa de seu tempo.
É claro nos textos evangélicos que Jesus tem necessidade de permanente diálogo com o Pai. Com freqüência, retira-se para orar a sós (Mt 14, 23). A oração está presente em sua vida antes das grandes decisões, nos momentos de perseguição, mas também nas ocasiões simples, de alegria e de festa (Mt 11, 25ss). Jesus era um judeu praticante e por isso fazia parte da vida de oração de seu povo. Fez-se presente do templo, esteve em peregrinações, participou das festas litúrgicas, orou nas sinagogas junto com seus familiares e seus discípulos.
A oração é parte indispensável do itinerário formativo dos discípulos de Jesus. Só haverá consistência na missão, se os discípulos de Jesus forem íntimos do Pai, encontrando na oração a Sua vontade acerca da atividade missionária. Por essa razão Jesus os ensinou a rezar: de forma constante, sincera, insistente, e livre do fermento dos fariseus que é a hipocrisia (Mt 6, 5-13; Lc 6, 28).
Por isso, a Igreja que tem na missão de Jesus a sua própria missão no mundo, deve ser primeiramente uma Igreja orante. Assim, a comunidade reunida em torno da pessoa de Jesus é uma comunidade animada pelos sacramentos e pela liturgia, motivados e fundamentados na Sagrada Escritura, grupos que se reúnem nas Igrejas, nas ruas e nas casas para estudos e novenas, para romarias e vigílias. Enfim, são comunidades que celebram a vida em forma de oração.