No capítulo que o Evangelho de João dedica à Eucaristia (Jo 6), Simão
Pedro afirma que não poderíamos seguir a outro pois só Jesus “tem palavras de
vida eterna”. O mesmo João afirma que “Aquele que Deus enviou fala as
palavras de Deus” (Jo 3,34). É Jesus que realiza a obra de salvação que lhe é
confiada pelo Pai. “Como discípulos de Jesus, reconhecemos que ele é o primeiro
e maior evangelizador enviado por Deus (cf. Lc 4,44) e, ao mesmo tempo, o
Evangelho de Deus. Cremos e anunciamos ‘a boa nova de Jesus, Messias, Filho de
Deus’ (Mc 1,1). Como filhos obedientes à voz do Pai, queremos escutar a Jesus
(Lc 9,35), porque ele é o único Mestre” (Mt 23,8), disseram os
bispos reunidos em Aparecida (DAp 103).
Por meio de Seu amado Filho Jesus, Deus falou com a humanidade e
mostrou a Sua face que até então ninguém havia visto (Jo 1, 18), a Ele, o Pai “fez
herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo” (Hb 1,2). Jesus
expressa em palavras e ações tudo aquilo que a Palavra de Deus contém. Cada ato
d Jesus é expressão da vontade de Deus ao mesmo tempo em que dá a atividades
humanas o caráter divino. Por ser Ele mesmo a “Palavra de Deus feita carne” é
que tem “palavras de vida eterna” para nos comunicar.
Suas atividades sempre balizadas pelas Escrituras, fazem com que boa
parte das pessoas o reconheçam como o concretizador das profecias. Nele, muitos
viam “verdadeiramente, o profeta!” (Jo 7,40). E envolvidos pela
grandiosidade de suas ações, muitos davam glórias a Deus, dizendo: “Um grande
profeta surgiu entre nós e Deus visitou seu povo” (Lc 7,16). Até mesmo aqueles
a quem o preconceito poderia afastar, como por exemplo, a Samaritana,
reconhecem a grandiosidade de Jesus: “Senhor, vejo que és um profeta” (Jo
4,19).
“Jesus saiu
ao encontro de pessoas em situações muito diferentes: homens e mulheres, pobres
e ricos, judeus e estrangeiros, justos e pecadores... convidando-os a segui-lo.
Hoje, segue convidando a encontrar nele o amor do Pai. Por isto mesmo, o
discípulo missionário há de ser um homem ou uma mulher que torna visível o amor
misericordioso do Pai, especialmente aos pobres e pecadores” (DAp 147).
Incansável anunciador do Reino de Deus, Jesus percorria toda a
Galiléia, demonstrando o seu poder e sua intimidade com o Pai por meio dos
muitos sinais que realizava ao longo do caminho:
“Percorria
toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e
curando toda e qualquer doença ou enfermidade do povo. O seu renome espalhou-se
por toda a Síria, de modo que lhe traziam todos os que eram acometidos por
doenças diversas e atormentados por enfermidades, bem como endemoninhados,
lunáticos e paralíticos. E ele os curava. Seguiam-no multidões numerosas,
vindas da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e da região além do
Jordão” (Mt 4,23-25).
Ao entrar na Sinagoga de Nazaré, tomou para si o texto do profeta
Isaías e apresentou a si mesmo como o concretizador das palavras sagradas: “O
Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para que dê a boa
notícia aos pobres; enviou-me a anunciar a liberdade aos cativos e a visão aos
cegos, para por em liberdade os oprimidos, para proclamar o ano da graça do
Senhor” (Lc 4, 18-19). O coração da missão de Jesus está neste resumo
apresentado por Lucas. Jesus veio ao mundo para anunciar o Reino de Deus; viveu
cumprindo esta missão. E, para Jesus, anunciar não significa fazer um discurso;
o anúncio é prática, é atitude, é fazer acontecer. É por isso que o evangelista
declara: Passou fazendo o bem.
O Reino de Deus é o grande sonho de Deus para o mundo e a humanidade. É
o Reino da vida e da liberdade, prometido por Deus e buscado intensamente pelo
povo da Primeira Aliança. É o Reino da saúde e da reconciliação, da partilha e
da abundância. Onde não há mais distinção entre as pessoas, nem excluídos. É o
Reino do convívio amoroso e fraterno, da plenitude da vida para toda a
humanidade e para a natureza, Reino que inicia aqui e se estende pela
eternidade. Jesus anunciou e inaugurou este tempo do Reinado de Deus e entregou
a tarefa da continuidade aos seus discípulos.
Para Jesus era importante deixar claro a gratuidade do anúncio, no
despojamento total de quem não leva duas túnicas, nem cajado, muito menos
dinheiro. Os seus seguidores, seguindo o seu exemplo, jamais podem se deixar
envolver e dominar pelos bens deste mundo. Devem ser homens e mulheres
verdadeiramente livres e purificados pela Palavra que foi dita pelo próprio Jesus
(Jo 15,3). Na generosidade dos discípulos, é refletida a
generosidade do próprio Deus. “Na gratuidade dos apóstolos, aparece a
gratuidade do Evangelho” (DAp 31): “Não leveis bolsa, nem alforje, nem
sandálias...” (Lc 10,4) O discípulo-missionário toma uma decisão a favor
do Reino de Deus, em total conversão e mudança de vida, pois “quem põe a mão no
arado e olha para trás não é apto para o Reino de Deus” (Lc 9,62).
Sustentados pelas palavras de Jesus que são espírito e vida (Jo
6,63.68). Continuamente atuais na Igreja, somos chamados a testemunhar até o
fim dos tempos a Boa Nova, continuando a missão de Jesus porque “somos
missionários para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo e, nele, a boa nova da
dignidade humana, da vida, da família, do trabalho, da ciência e da
solidariedade com a criação” (DAp 103).
As palavras de Jesus serviram como censura a incredulidade dos
sacerdotes, condenação a hipocrisia e a arrogância do comportamento farisaico,
denúncia do rei e seus partidários (Mt 22,16-22), condenação
explicitamente do comércio da religião. “Entrou no templo e expulsou todos os
vendedores e compradores que lá estavam. Virou as mesas dos cambistas e as
cadeiras dos que vendiam pombas: A minha casa será chamada casa de oração. Vós,
porém, fazeis dela um covil de ladrões” (Mt 21,12-13).
Com suas palavras, vida e obras, Jesus é para sempre alimento para
todos os que desejam encontrar sentido e alento, esperança e forças para buscar
um mundo novo, que nas palavras do mestre é apresentado pelo nome de Reino de
Deus. É Ele mesmo que ainda hoje nos convida ao discipulado e à conversão que é
caminho para o Reino de Deus. Sua Palavra nos aponta o caminho para um mundo
que parece desnorteado e perdido, verdade para um mundo que se acostumou a
duvidar de tudo e se deixou engolir pelo relativismo e vida para a humanidade
sedenta de sentido e de esperança, e por isso, esta Palavra que não é um
conceito mas o próprio Filho de Deus,
precisa ressoar pelos quatro cantos da terra. Só é cristão quem se deixa
interpelar pelo Carpinteiro de Nazaré e a cada dia abre seu coração acolhendo
dele constantemente as sementes que diariamente são lançadas no terreno de
nossas vidas!
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