segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Meditações sobre o ser cristão no mundo: Igreja ícone da Trindade


A Igreja é o sacramento da unidade da Trindade, e, nela, com os seres humanos e dos seres humanos entre si. Pelo sacramento do batismo todos somos inseridos nesta Igreja de Comunhão. Toda a ação pastoral da Igreja tem a missão de sensibilizar os cristãos para nossa realidade de Corpo de Cristo, uma comunidade de fé, de vida no amor fraterno (LG n. 8-9). Assim como o Apóstolo Paulo nos aconselha que embora sendo muitos membros e diferentes funções, muitos dons e carismas, somos um só Corpo em Cristo e por isso todos irmãos conforme a graça conferida (Rm 12, 4ss). 
A Igreja não é uma massa amorfa, é Povo de Deus cujo poder está no serviço especialmente ao menor e aos últimos. Uma Igreja que se propõe a grande missão de alimentar a fé, e recordar a seus fiéis, que em virtude de seu batismo, todos são chamados a manifestar em todos os continentes uma Igreja toda ministerial. O modelo para nós é o mistério de amor da Santíssima Trindade. Este mistério de amor constitui o seu ser. A meta para nossa vida de Igreja consiste em alcançar a comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
O nosso tempo se caracteriza pela tendência de se estabelecer uma religiosidade desligada da dimensão comunitária, trata-se um Cristianismo sem Igreja, mas é preciso destacar que a comunhão fraterna numa comunidade concreta é o que distingue a experiência da vocação cristã de um sentimento religioso individual. É nela que se realiza a experiência de fé dos discípulos-missionários (cf. DAp 164). A Igreja é a comunidade dos filhos e filhas de Deus que fazem parte do mesmo Corpo de Cristo (cf. 1Cor 10,17), que se deixam transformar pelo ensinamento dos apóstolos, não se deixam manchar pelas divergências e põem em comum o pão e as orações (cf. At 2,42).
A Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia”. É o coração dos sacramentos e da vida da Igreja, a Ceia com o Senhor e o dom de Deus e a Deus. Por isso é o momento mais precioso ao qual não se pode negar uma vida cristã. É o que mais caracteriza a expressão católica. Por isso, cada comunidade quando se reúne no Dia do Senhor, deve ter o direito de escutar a palavra e a sua interpretação, e de participar na Eucaristia. “A Igreja que a celebra é ‘casa e escola de comunhão’, onde os discípulos compartilham a mesma fé, esperança e amor a serviço da missão evangelizadora” (DAp 158). Em obediência ao novo mandamento do amor, procuram viver unidos à mesma Cabeça, Cristo, chamados a cuidar uns dos outros (cf. DAp 161).
O aspecto missionário que é parte constitutiva da missão da Igreja, é também oriundo da comunhão trinitária. O amor de Deus que se reflete nas expressões de comunhão, atrai as pessoas para o Cristo (cf. Jo 13,34-35). Para que a Igreja evangelize, é necessário que ele dê testemunho sincero de fraternidade, à luz das primeiras comunidades como encontramos expresso no Livro dos Atos dos Apóstolos. Não existe discipulado se não existir comunhão. Todavia, a comunhão não é nivelação das diferenças, mas justamente comunhão de diferenças pois a diferença não é sinal de desigualdade e sim de riqueza. A “comunhão e a missão estão profundamente unidas entre si. A comunhão é missionária e a missão é para a comunhão” (CHL 32, in DAp 163).
A diversidade de serviços e carismas exercidos por uma diversidade de filhos e filhas de Deus é o grande sinal de comunhão: “Cada batizado é portador de dons que deve desenvolver em unidade e complementaridade com os dons dos outros, a fim de  formar o único Corpo de Cristo, entregue para a vida do mundo. Cada comunidade é chamada a descobrir e integrar os talentos escondidos e silenciosos com os quais o Espírito presenteia aos fiéis” (DAp 162).
A nossa vida de cristãos, carregada de diversidade e riqueza das pessoas que estão reunidas em torno de Cristo se torna um fardo pesado a ser carregado a partir do instante em que os dons são vistos como propriedades de quem os exerce e como superiores aos demais presentes na mesma comunidade. Todavia, quando se observa que os dons que trazemos são tesouros de Deus em potes de argila, e portanto, quem nos presenteou é mais importante e que os outros dons são tão importantes quanto os nossos, expressamos o pleno sentido da comunhão: intimidade com Cristo. Jesus mostra isso, quando chama os Apóstolos a viverem em comunhão com ele, quando os reúne para explicar-lhes os mistérios do Reino de Deus e os envia em missão (cf. DAp 154). Esta intimidade se tornará absoluta “na comunhão dos santos, ou seja, a comunhão nos bens divinos entre todos os membros da Igreja, em particular entre os que peregrinam e os que já gozam da glória celeste” (DAp 160).

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