Irmãos
e Irmãs, começo a homilia deste Domingo com uma citação de São Epifânio de
Salamina. Ele nos convida a exultação:
“
‘Exulta de alegria, filha de Sião!’ (Zc 9,9), alegra-te e exulta, Igreja de
Deus, pois eis que o teu Rei vem a ti, eis o Esposo que chega, sentado num
burro como num trono! Vamos depressa ao Seu encontro para contemplar a Sua
glória. Eis a salvação do mundo: Deus avança para a cruz. Também nós, os povos,
gritamos hoje com o povo: ‘Hosana ao Filho de Davi! Bendito seja aquele que vem
em nome do Senhor! Hosana nas alturas (Mt 21,9; Sl 118,26)”
Durante
cinco domingos da Quaresma escutamos sempre uma palavra insistente e esta
dizia: Quaresma é período de mudança de
vida, mudança da nossa forma de ver o mundo, de ver a nós mesmos, ao mundo onde
habitamos e a Deus. Estamos nos preparando para entrar com Jesus em Jerusalém,
local onde a vida de Cristo é oferecida por nossa salvação. Pois bem, hoje
chegamos em procissão e as portas estavam fechadas, somente após a oração é que
foram abertas. O Evangelho que motivou nossa caminhada falava sobre a solene entrada de Jesus em Jerusalém. Então
uma pergunta pode ser feita: Como é
possível entrar com Jesus em Jerusalém se não saímos de Tibiri II, Santa Rita? Eu
respondo a vocês que entramos sim, com Jesus na cidade de Jerusalém! A cidade
de Jerusalém não é um dado geográfico ou político. Jerusalém, o nome da cidade
dá todo o teor de significado ao que celebramos: Jerusalém significa cidade da Paz. Jerusalém
na Sagrada Escritura significa então o lugar onde Deus reina e deseja reinar
sempre! Portanto, entrar em Jerusalém é adentrar o nosso próprio interior,
nosso coração mesmo, o local onde nós não podemos nos esconder, o local onde
tudo sobre nós está guardado! Para Jesus, entrar em Jerusalém é se fazer
presente no coração da humanidade e Cristo deseja se fazer presente em nosso
coração para nos purificar por dentro e assim, renovados em nosso interior
teremos como modificar o mundo onde vivemos. Não há transformação do mundo se
nosso coração não se abrir para o Cristo que vem. Esta abertura de nosso
coração também foi simbolizada pelas portas fechadas da Igreja. Assim se
encontram muitos corações e por maior que seja a vontade e o amor de Jesus,
estes não se abrirão, infelizmente. Eis
que estou à porta e bato, se alguém abrir eu entrarei e cearei com ele.
Estas palavras de Jesus continuam sempre presentes no mundo e no mundo,
escurecido pelo pecado, a resistência se torna cada vez mais clara e forte. As
portas do coração devem se abrir para Jesus que vem reinar, mas não vem reinar
como os poderosos deste mundo, Jesus vem reinar como manso e humilde irmão da
humanidade, essa humildade do Senhor vem expressa no animal que o conduz para
Jerusalém. Qual a solenidade que existe em se entrar montado em um jumento? A
solenidade reside na mansidão, na entrega desinteressada de quem só deseja amar
e servir. A Solene entrada de Jesus em Jerusalém é a humilde solenidade de quem
desmancha as imagens que temos de Deus. Em nossa pobre imaginação, vemos Deus
como Rei e de fato Deus é Rei, mas não como os reis que vemos neste mundo e sim
um rei diferente que faz do serviço força, da humildade escudo e da cruz
estandarte contra os poderes do mal. A entrada de Jesus em Jerusalém esconde já
em si, a traição, a negação e o sofrimento. Lemos no Evangelho que a multidão
se divide em duas partes: os que vão à frente de Jesus e os que o seguem. Estes
dois grupos aclamam Jesus do mesmo jeito, mas não podemos nos deixar enganar
porque ao vermos que pessoas entram em Jerusalém à frente de Jesus, devemos
lembrar que o senhor em outro trecho nos ensina: Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo e siga-me! Nosso lugar é
seguindo Jesus, não à sua frente, porque é ele quem sabe o caminho. É ele o
próprio caminho, caminho que conduz até a Verdade e verdade esta capaz de dar a
vida, assim ele nos falou: Eu sou o
caminho, a verdade e a vida! Nosso caminho ao longo desta semana deve ser
aberto por Jesus e nos seus passos, devemos reencontrar a fidelidade à nossa
vocação batismal. Muitos aclamam Jesus como Senhor, pedem a ele socorro por
meio do Hosana que é um pedido de socorro a Deus, mas embora o façam com os
lábios, o coração está distante há muito tempo do Evangelho de Cristo! Peçamos
a Cristo que nos socorra: Hosana no mais
alto dos céus! Mas, peçamos de coração sincero! Peçamos a ele que realize
em nossas vidas o que os ramos que trouxemos significam: Os ramos simbolizam a
realeza de Jesus, simbolizam a paz que Deus quer nos ofertar pois já em Genesis
se diz que o sinal da vida na terra
reestabelecida após o dilúvio é um ramo de oliveira trazido por uma
pombinha que foi solta da arca e para ela voltou! Mas os ramos também
simbolizam a unção, o óleo que ungia os reis, o Espírito Santo sobre Jesus e o
óleo que nos ungiu no Batismo! Por isso, hoje, A Igreja celebra um dia de festa
à sombra de Cristo, oliveira na casa de Deus (Sl 52,10); Ele caminhando à nossa
frente, abriga nossas vidas em sua sombra! A Igreja celebra um dia de Festa com
Cristo, lírio primaveril do Paraíso em flor. Porque Cristo está no meio da
Igreja como verdadeiro lírio florido, raiz de Jessé que não julga o mundo mas o
serve (Is 11,1.3). Ele está no meio da Igreja, fonte eterna donde jorram, não
já os rios do paraíso (cf. Gn 2,10), mas Mateus, Marcos, Lucas e João, que
regam os jardins da Igreja de Cristo. Hoje, nós, que somos novos e fecundos
rebentos (cf Sl 128,3), levando nas mãos os ramos da oliveira, supliquemos a
misericórdia de Cristo. “Plantados na casa do Senhor”, florescendo na Primavera
nos “átrios do nosso Deus”, celebramos um dia de festa: porque o inverno tenebroso de nossos
pecados já passou! (Sl 92,14; Ct 2,11)
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