Com este relato do
Evangelho já estamos na segunda parte do Evangelho de Marcos. Se na primeira
parte temos a demonstração de que Jesus é o Messias, agora na segunda parte
está sendo trabalhada pelo Evangelista a afirmação de que este Jesus Messias é
Deus! O desafio ainda será remodelar a definição que os Discípulos possuem
acerca do ser Messias de Jesus.
Jesus
inicia a sua jornada rumo a Jerusalém. Desde o episódio de Cesaréia de Filipe,
ele tem evitado as multidões e toda a sua atenção se volta para a formação do
seu grupo. A sua Palavra se volta especificamente para o real direcionamento do
seu grupo. Assim como em todos os dois domingos anteriores, poderemos perceber
neste Evangelho duas partes: a primeira parte é o segundo anúncio da Paixão. Por
trás deste segundo anúncio sobre a sua Morte e Ressurreição, o Senhor nos
revela o seu jeito de ser Messias em profundo contraste com a mentalidade
gloriosa imaginada pelos seus discípulos.
A
segunda parte deste Evangelho se refere ao significado do discipulado. A
Palavra de Cristo forma seus discípulos! A chave para se compreender o
discipulado se encontra em Mc 3,14, o Senhor deseja formá-los, por isso deseja
que fiquem com ele, mudem de lugar, convertam-se. O Evangelho de hoje ainda
pode unir as duas partes que já apresentamos, sob a temática da perda da
vida para ganhá-la definitivamente (Mc 8,35). Jesus é o exemplo daquilo que ele
mesmo acaba de anunciar como Mestre. No Evangelho de Marcos encontramos três
predições sobre a Morte e Ressurreição do Senhor e esta é a menos detalhada (Mc
8,31; 9,31 e 10,33). No lugar dos membros do Sinédrio ou Grande Conselho
(anciões, chefes sacerdotais e escribas de 8,31 ou chefes sacerdotais e
escribas para ser condenado à morte de 10,33), temos unicamente que será
entregue nas mãos dos homens.
Somos
colocados diante do Mistério da Palavra humilde, que para conhecer a
ressurreição, precisa conhecer o aparente fracasso. Para se conhecer a
eternidade é preciso que se assuma toda a aspereza e limitação desta vida. Em
um mundo no qual todos desejam estabilidade e segurança, Jesus insiste no tema
da entrega confiante a Deus e no desapego de si mesmo! Quem
quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa,
vai salvá-la. Diante da Palavra de
Deus que aceita a humilhação, o medo se apodera do grupo de Jesus, é o medo de
quem não compreende. Mas o fato de não perguntar também é significativo por que
pode significar a incapacidade de se deixar guiar pela Palavra e Deus. E a
pergunta feita por Jesus em casa, demonstra que esta é a hipótese mais
provável. Porque o anúncio da Morte e Ressurreição do Senhor tem que se chocar
com o questionamento interno dos discípulos acerca de quem seria o maior!
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