Os três anúncios
da Cruz
Em cada um dos
três anúncios, Jesus fala da sua paixão, morte e ressurreição como sendo parte
do projeto de Deus (8,31;9,31;10,33). A expressão “deve” indica que a Cruz já
tinha sido anunciada nas profecias (cf Lc 24,26). Cada um dos três anúncios é acompanhado
de gestos ou palavras de incompreensão por parte dos discípulos. No 1º Pedro
critica Jesus, que o repreende severamente chamando de Satanás, isto é, aquele que
o desvia do caminho de Deus (8,32-33). No 2º, os discípulos não entendem, têm medo
e cada um quer ser o maior (9,32-34). No 3º, eles estão assustados e querem promoção
(10,32;35-37). É porque nas comunidades para as quais Marcos escreve havia gente como
Pedro: não queriam a cruz! Eram como os discípulos: não entendiam a cruz ou queriam ser o
maior; viviam assustados e queriam promoção.
Em cada um dos
três anúncios Jesus corrige a falta de compreensão dos discípulos e ensina como
deve ser o comportamento deles. No 1º, ele exige: carregar a cruz e segui-lo,
perder a vida por causa dele e do Evangelho e não ter vergonha dele e da sua
Palavra (8,34-38). No 2º, exige: fazer-se servo de todos, receber os pequenos
como se fossem ele mesmo (9,35-37). No 3º, exige: beber o cálice que Ele vai
beber, não imitar os poderosos que exploram, mas sim o Filho do Homem que veio
para servir (10,35-45). Três vezes Jesus pede silêncio aos discípulos. O povo
não tinha condições de aceitar um condenado à cruz como o Messias, pois a
ideologia dominante só divulgava a imagem do Messias glorioso: rei, juiz, doutor,
sacerdote, general! Só o seguimento poderia abrir o entendimento da mensagem
sobre a cruz.
As conseqüências
da Cruz na vida dos discípulos
Entre o 1º e o
2º anúncio, há três complementações que ajudam os discípulos a corrigirem suas
idéias erradas sobre Jesus:
1- A
transfiguração (9,2-10) é uma confirmação clara de que Jesus veio realizar as profecias
(Is. 42,1; Dt 18,15). Ele é o Messias glorioso, mas o caminho para a glória
passa pela Cruz.
2- Instrução
sobre a volta do profeta Elias (9,11-13) concretizada no testemunho e na morte
violenta de João Batista.
3- Instrução
sobre a necessidade da fé (9,14-29) aos discípulos que não conseguiam expulsar
um demônio. Só a oração fortalece a fé do discípulo a ponto de ele ser capaz de
expulsar o demônio e de corrigir as idéias erradas sobre o Messias. Pois “Tudo
é possível àquele que crê” (9,24).
Entre o 2º e o 3º
anúncio há seis complementações sobre as mudanças que devem ocorrer na vida dos
discípulos a partir dos vários níveis do relacionamento humano.
1- No
relacionamento com os que não são da comunidade, o máximo de abertura:
Quem não é
contra nós é a nosso favor” (9,38-40).
2- No
relacionamento com os pequenos e excluídos, o máximo de acolhimento. Acolher os
pequenos por serem de Cristo e não ser motivo de escândalo para eles (9,41-50).
3- No
relacionamento homem-mulher, o máximo de igualdade: Jesus elimina o privilégio
que o homem tinha com relação à mulher e proíbe mandar a mulher embora
(10,13-16).
4- No
relacionamento com as crianças e suas mães, o máximo de ternura: acolher, abraçar,
abençoar, sem medo de contrair alguma impureza (10,13-16).
5- No
relacionamento com os bens materiais, o máximo de abnegação: “Só uma coisa te
falta: vai vende tudo o que tens e dá aos pobres” (10,17-27).
6- No
relacionamento entre os discípulos, o máximo de partilha: quem deixar irmão,
irmã, pai, mãe, filhos, terra por causa de Jesus e do evangelho, terá cem vezes
mais (10,28-31).
Estar sempre a
caminho e não parar nunca
Desde o começo
até o fim desta longa instrução, Marcos informa que Jesus está a caminho (8,27;
9,30-33). Discípulo é quem segue Jesus nesta caminhada para Jerusalém. É o
caminho da entrega, do abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação
do conflito, sabendo que haverá ressurreição. A cruz faz parte deste caminho.
Pois num mundo, organizado a partir do egoísmo, o amor e o serviço só podem
existir crucificados! Quem faz de sua vida um serviço aos outros, incomoda os
que vivem agarrados aos privilégios.
A compreensão
plena do seguimento de Jesus só se obtém no compromisso prático, caminhado com
Ele. Quem insiste em manter a idéia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem
cruz, nunca chegará a ser verdadeiro discípulo. Mas quem souber fazer a “entrega
de si” (8,35), quem aceitar “ser o último” (9,35), quem assume “beber o cálice
e carregar a cruz” (10,38), este, como Bartimeu, mesmo tendo idéias não
inteiramente corretas, conseguirá enxergar e “seguirá Jesus no caminho” (10,52).
A cura de
Bartimeu esclarece o ponto de chegada da instrução sobre a cruz. Ele é pobre e
cego: um excluído. Não pode participar da procissão que acompanha Jesus. Mas
ele grita e incomoda aos que vão na procissão: “Muitos o repreendiam para que
se calasse, mas ele gritava mais ainda”. Jesus escuta o grito de Bartimeu, para
e manda chamá-lo. Ele larga tudo o que tem (apenas um manto!) e vai até Jesus.
Ele tinha invocado Jesus com idéias pouco exatas, porém, acreditou mais em Jesus
que o chamou, do que nas idéias que ele mesmo tinha sobre Jesus. Converteu-se, largou
tudo e seguiu Jesus no caminho para o Calvário (10,52).Nesta certeza de caminhar
com Jesus está a fonte da coragem e a semente da vitória sobre a cruz. Pois a cruz
não é uma fatalidade, nem uma exigência de Deus. Ela é a conseqüência do compromisso
assumido com Deus de servir aos irmãos e de recusar o privilégio.
· Você se
reconhece na reação dos discípulos diante da cruz?
· Como a cruz se
manifesta na minha vida e na vida da minha comunidade? Como
nós enfrentamos
a cruz hoje?
ESTE TEXTO DE AUTORIA DE FREI CARLOS MESTERS. LOGO APÓS VER A POSTAGEM PERCEBI QUE HAVIA FALTADO OS CRÉDITOS DE AUTORIA...
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