A descoberta de uma espiritualidade da cruz
Os discípulos
seguem Jesus. Pensam que já o conhecem mas, aos poucos, descobrem que em Jesus
havia um mistério maior. Ele fala, aconselha e decide diferentemente do que
eles esperavam ou imaginavam. O mesmo acontece conosco em relação com outra
pessoa. Você pensa que a conhece e, cada vez de novo, ela surpreende, reagindo
de um modo diferente do que se esperava ou imaginava. E quantas vezes acontece
que julgamos até conhecer as reações de Deus. E depois nos damos conta de que
Deus é totalmente diferente do que imaginávamos, e de que estávamos apenas manipulando
Deus a nosso favor. Mesmo assim, apesar do desencontro crescente com os
discípulos, Jesus não rompe nem desiste de acolhê-los. Pelo contrário, começa a
instruí-los para que vençam a cegueira e percebam a causa do desencontro.
Começa a falar abertamente sobre a Cruz e sobre o Messias Servo que vai sofrer
e morrer.
Na época de
Marcos, o problema não era só a Cruz de Jesus mas também a cruz que os cristãos
carregavam por causa de sua fé em Jesus: perseguições, brigas com irmãos
judeus, incertezas, conflitos internos; havia alguns que queriam abafar o grito
dos pobres (cf 10,48). E as cruzes de hoje? Fome, desemprego, falta de saúde,
exclusão.
Tantas cruzes!
Marcos procura
iluminar a estrada para eles e para nós. Convida-nos a acompanhar Jesus que sai
da Galiléia e começa a caminhada à Jerusalém. Os discípulos “seguem Jesus” e
enquanto caminham para o calvário, recebem uma longa instrução sobre a Cruz. A
instrução está entre duas curas do cego. No inicio, a cura de um cego anônimo
(8,22-26). No fim, a cura de Bartimeu (10,46-52). As duas são símbolo do que se
passava entre Jesus e os discípulos, pois “tinham olhos e não enxergavam”
(8,18).
Jesus os levou
para “fora do povoado”, fora das Galiléia, e fez todo o possível para romper o
impasse e ajudá-los a recuperar a visão. Na 1ª cura, o cego não enxergou logo
tudo. Só numa 2ª vez, Jesus o curou. O mesmo acontecia com Pedro e com tantos
outros. Confessando que Jesus era o Messias, Pedro era como o cego de meia
visão. Reconhecia em Jesus o Messias, mas Messias sem a cruz!
Na 2ª cura, o
cego Bartimeu, como Pedro, reconhecia em Jesus o Messias, pois gritava: “Jesus,
filho de Davi”. Este título não era muito bom e foi criticado pelo próprio Jesus
(12, 35-37). Bartimeu, porém, não se agarrou ao título e teve fé em Jesus: “Tua
fé te salvou”! E no mesmo instante recuperou a vista e seguia Jesus no caminho.
Bartimeu não fez as exigências de Pedro, mas soube entregar sua vida aceitando
Jesus sem impor
condições. Ele
se tornou o discípulo modelo para todos os que querem “seguir Jesus no caminho”
em direção a Jerusalém.
Entre estas duas
curas está a longa instrução sobre a Cruz através de palavras. Parece uma
pequena cartilha, uma espécie de catecismo feito com frases do próprio Jesus.
Fala sobre a cruz na vida do discípulo e da discípula de Jesus Crucificado
A instrução
consta de três anúncios da paixão, entre os quais há uma série de ensinamentos
que ajudam a entender Jesus como Messias Servo. Esclarecem também a
conversão que
deve ocorrer na vida dos que aceitam caminhar com Jesus. O conjunto da
instrução tem
como pano de fundo a caminhada de Jesus (8,27;9,30-33;10,32) para Jerusalém,
onde será preso e morto. O contexto é a Cruz na vida de Jesus e na vida dos
discípulos.
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