"És grande, Senhor e 
infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável tua 
sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e 
precisamente o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho 
do pecado e a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de 
tua criação, deseja louvar-te. Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, 
porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar 
em ti descanso.
Concede, Senhor, que eu bem 
saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, 
para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te 
conhecer?
Porque, te ignorando, 
facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes 
ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não 
crêem? Ou como haverão de crer que alguém lhos pregue?
Com certeza, louvarão ao 
Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram 
hão de louvá-lo. Que eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em 
ti, pois me pregaram teu nome. invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que 
me inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu 
pregador."
Com estas palavras, Santo 
Agostinho abre as Confissões, seu livro auto biográfico, no qual ele apresenta 
todo o  seu processo de conversão. Há no ser humano uma ânsia, um desejo 
profundo de infinito, que faz com que as pessoas busquem o real sentido para as 
suas vidas. No Evangelho de João, o Senhor nos diz:"Ao ser elevado da terra, 
atrairei todos a mim!" Em que sentido o senhor está nos falando? Qual o 
significado desta afirmação?
A cruz é a execução do 
juízo de Deus com relação ao pecado que se concentrou e se tornou visível no 
Filho (2 Cor 5,21). Relacionada a este juízo de Deus há uma linha que se inicia 
na Antiga Aliança, estende-se até Paulo e depois João. No Antigo Testamento Deus 
mesmo é o juiz como Aquele que guarda seus direitos estabelecidos na Aliança, 
portanto é nesta fidelidade que Ele expressa quem É. Na Antiga Aliança, o 
direito estabelecido por Deus é o fundamento de toda a confiança, do qual sua 
justiça não é senão um aspecto, como também são a sua fidelidade, paciência, 
condescendência. Deus como justo que é, e por isso juiz do cumprimento da 
Aliança (Sl 50,6), sempre desce e intervém de forma que o errado se corrija, 
expressando envolvimento com o futuro de sua obra criada.                                            
Por levar a sério o seu 
parceiro de Aliança é que Deus o busca, reconduz, pelo julgamento que corrige 
pedagogicamente. Desta maneira, não há nenhuma aceitação da injustiça por parte 
de Deus. Seja qual aspecto possua, a injustiça é alcançada, consumida e 
aniquilada pela vida de Deus. E pelo fato de não existir um ser humano que em 
suas próprias potencialidades consiga restabelecer os laços que a própria 
humanidade rompeu com Deus é que o próprio Deus por uma sucessão de castigos e 
perdões deixa claro que o excesso de pecado exige uma definitiva rejeição de 
onde se erguerá a promessa de uma salvação definitiva (Dt 30,15-20). Nesta mesma 
tradição Paulo vê a consumação de toda a Antiga Aliança na cruz e Ressurreição 
de Jesus.                                            
Nenhum outro, a não ser o 
próprio Deus garante os dois lados da Aliança como homem-Deus, Ele não apenas 
elimina a injustiça por meio de compromissos, mas faz toda a sua justiça 
consumir a injustiça do mundo com o intuito de tornar acessível a todos a sua 
justiça. Desta purificação, Deus é ao 
mesmo tempo sujeito e objeto do julgamento e da justificação ao tomar o partido 
dos homens e defender a causa de Deus em favor deles. Para H.U.von Balthasar, é 
na cruz
Onde 
Deus assume sobre si enquanto Cristo homem toda a culpa de Adão (Rm 5,15-21) a 
fim de se entregar (Rm 4,25) como personificação viva do pecado e da inimizade 
(2Cor 5,21; Ef 2,14) à condenação da parte de Deus (Rm 8,3) é para ser 
ressuscitado por Deus, como vida de Deus morta e sepultada em meio ao abandono 
divino por causa de nossa justificação (Rm 4,25). E isto não é tomado em sentido 
mítico [...] e nem deve ser atenuado, naquilo que se refere à Cruz de Cristo, 
como se o crucificado tivesse recitado Salmos numa íntima e imperturbada 
comunicação com Deus e tenha morrido na paz divina.                                                                
Mas é João quem expõe o 
caráter judicial da cruz com uma radicalidade superior à de Paulo. Embora 
pareçam contraditórios, pois de um lado Jesus é o autor e senhor de todo juízo 
(5,22), é exercido por Ele mesmo (8,16. 26) e para isto ele veio ao mundo 
(9,39), de um outro, Ele não veio para julgar e sim para salvar (3,17; 12,47). 
Todavia, sua existência realiza o juízo (3,18) que se une à exaltação na cruz 
(12,31) onde o Espírito Santo lhe apresentará ao mundo como inocente. Percebe-se 
que na teologia de João, Glória e Cruz não são momentos distintos, mas é na cruz 
que revela a glória. Então fica mais claro em que sentido a hora em João significa glorificação e 
julgamento. Este juízo por sua vez é provado subjetivamente como perturbação 
(12,27) e objetivamente significa rompimento e isto quer dizer 
que
 Na cruz 
não há nenhum livro da Sabedoria, pois que a própria luz do mundo se obscureceu, 
a ‘hora das trevas’ venceu-a, e toda a Sabedoria de Deus se tornou ‘loucura’, 
para destruir a ‘sabedoria dos sábios’ (1 cor 1,19-21).
Este sofrimento se 
explicita na imagem utilizada por Jesus: o Cálice que representa a ira divina que 
o pecador deve beber (Is 51,17. 22; Jr 25,15; Ez 23,31ss; Sl 75,9). E pelo Batismo que encontra um paralelo no 
Antigo Testamento com as águas que a tudo consomem (Is 43,2; Sl 42,8; 69,2s). 
Neste ser mergulhado nas águas é que se realiza o juízo sobre o mundo (Jo 12,31) 
e assim o velho mundo conhece a ruína em contato com a cruz de Cristo. Posto que 
ao atingir Jesus, nada encontra nele sobre o qual o antigo poderio deste mundo 
possa exercer seu poderio (Jo 14,30).
Pe Dalmo Radimack
 

 
 
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