Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua
vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade evangélica a obediência,
a pobreza e a castidade, sinais concretos de quem aguarda o Senhor, que não
tarda a vir. Pela fé, muitos cristãos se fizeram promotores de uma ação em prol
da justiça, para tornar palpável a
palavra do Senhor, que veio anunciar a
libertação da opressão e um ano de graça para todos (cf. Lc 4, 18-19). Pela fé,
no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está
escrito no Livro da vida (cf. Ap 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza de seguir o
Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão:
na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e
ministérios a que foram chamados.
Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o
Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história. 14. O Ano da Fé será
uma ocasião propícia também para intensificar o testemunho da caridade. Recorda
São
Paulo: «Agora permanecem estas três coisas: a
fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a
caridade» (1 Cor 13, 13). Com palavras ainda
mais incisivas – que não cessam de empenhar os cristãos –, afirmava o apóstolo Tiago: «De que aproveita,
irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé?
Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou
uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento cotidiano, e um de vós lhes
disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais
o que é
necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?
Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda!
Poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me
então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé”»
(Tg 2, 14-18).
A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade
sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade
reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o
seu
caminho. De facto, não poucos cristãos dedicam
amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído,
considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer,
porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude
da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor
ressuscitado. «Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a
Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40): estas palavras de Jesus são uma advertência
que não se deve esquecer e um convite perene a devolvermos aquele amor com que
Ele cuida de nós. É a fé que permite reconhecer Cristo, e é o seu próprio amor
que impele a socorrê-Lo sempre que Se faz próximo nosso no caminho da vida.
Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no mundo, aguardando
«novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça» (2 Ped 3, 13; cf. Ap 21,
1).
15. Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo
pede ao discípulo Timóteo que «procure a fé» (cf. 2 Tm 2, 22) com a mesma
constância de quando era novo (cf. 2 Tm 3, 15). Sintamos este convite dirigido a
cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de
vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus
realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da
história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do
Ressuscitado no mundo.
Aquilo de que o mundo tem hoje particular
necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são
capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que
não tem fim.
Que «a Palavra do Senhor avance e seja
glorificada» (2 Ts 3, 1)! Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a
relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar o futuro
e a garantia dum amor autêntico e duradouro. As seguintes palavras do apóstolo
Pedro lançam um último jorro de luz sobre a fé: «É por isso que exultais de
alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas
provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do
que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de
louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O
terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma
alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a
salvação das almas» (1 Pd 1, 6-9). A vida dos cristãos conhece a experiência da
alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos crentes,
mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora
queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o
mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1, 24) , são
prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz:
«Quando sou fraco, então é que sou forte» (2
Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e
a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio de
nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja, comunidade visível da
sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação definitiva com o
Pai. À Mãe de Deus, proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45),
confiamos este tempo de graça.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de
Outubro do ano 2011, sétimo de Pontificado.
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