
Todo o mundo deve saber o
significado da expressão a "casa da mãe Joana". E, se você não souber,
vai ficar sabendo já! O texto a seguir, fui buscá-lo na internet, essa
porta sem fronteiras da modernidade tecnológica: "Ensina Câmara
Cascudo que a expressão se deve a Joana, cujo nome completo se
desconhece, que viveu na Idade Média entre 1326 e 1382 e foi rainha de
Nápoles e condessa de Provença. Teve uma vida atribulada e em 1346
passou a residir em Avignon, na França, segundo alguns autores por ter
se envolvido em uma conspiração em Nápoles de que resultou a morte de
seu marido, segundo outros por ter sido exilada pela Igreja por causa
de sua vida desregrada e permissiva. Em 1347, aos 21 anos, Joana
regulamentou os bordéis da cidade onde vivia refugiada. Uma das normas
dizia: 'o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar'.
Transposta para Portugal, a expressão paço-da-mãe-joana virou sinônimo
de prostíbulo. Trazida para o Brasil, o termo paço, por não ser da
linguagem popular, foi substituído por casa e casa-da-mãe-joana e
serviu, por extensão, para indicar o lugar ou situação em que cada um
faz o que quer, onde imperam a desordem, a desorganização".
Como
veem, a internet pode ser um auxílio necessário à superação de nossa
ignorância, até mesmo para curiosidades desse tipo. Espero que a
expressão tenha sido entendida pelo meu leitor, mas, se não, vamos
instigar nossa massa cinzenta.
Na verdade, eu não sei nem conheço o meu leitor, embora saiba
que, vez por outra, alguém me aborde na rua para me dizer que leu e
gostou, ou não, de algum texto meu. O fato é que, apesar de ter de
falar certas verdades incômodas, minha intenção não é, nunca, ferir a
sensibilidade de quem quer que seja, mas, sobretudo, suscitar uma
reflexão oportuna sobre comportamentos que não condizem com certas
circunstâncias e lugares, no caso específico, refiro-me a atitudes sem
propósitos que muitos hereges de plantão querem fazer dentro da Igreja.
Nunca aparecem lá, e quando vão, pensam em querer fazer dela a "casa da
mãe Joana". Independentemente do que você faça ou realize como
profissional, responda-me com sinceridade: "Você gostaria se alguém
chegasse a seu lugar de trabalho - seu escritório, seu gabinete, sua
casa, sua loja, seu supermercado, seu departamento de vendas, sua
cozinha, sua barraca, sua empresa, sua farmácia - e começasse a mudar
tudo de lugar, simplesmente, porque não gostou da disposição das
coisas?"
Pode até ser que algum desorientado responda de
maneira positiva, mas, o normal, é que diga: "Não, não gostaria!".
Então, por que na Igreja tudo deve ser permitido? Especialmente em
"missas de formatura" - que é um termo inapropriado para a Celebração
Eucarística, porque não existe "missa de formatura" - e em casamentos,
muitos aborrecimentos chegam pelo fato de que muitas pessoas, não
habituadas com a celebração litúrgica, não conseguem distinguir a
diferença entre a Igreja, que é o espaço sagrado do louvor e do culto
prestado a Deus, cuja presença está no Sacrário, permanentemente, e
outro qualquer salão de festas, ou, quando não, um salão de debutantes.
Quando digo que não "há missa de formatura", quero dizer que a Liturgia
da Igreja é uma só, e já está pronta no Missal Romano para as diversas
circunstâncias da vivência cristã. Não somos nós que a reinventamos com
as chamadas "adições inoportunas", como bem caracterizou o Papa Bento
XVI.
Aí, pensa-se poder cantar de tudo, desde que cada um sinta a
pulsação emocionante de seu coração embalado pelo romantismo que, às
vezes, é visto na televisão. E, quando as pessoas sérias da Igreja
tentam dar uma orientação conforme as exigências próprias da sagrada
Liturgia, são taxadas de intransigentes e mal-educadas. Que o digam
algumas pessoas entre cerimonialistas, fotógrafos, ornamentadores e
cantores que, convidados a receberem formação litúrgica pela
Arquidiocese, em 2010, quase em uníssono, manifestaram o desafeto em
relação ao Padre da Paróquia "Jesus Ressuscitado". Nesse âmbito, o que
eu considero mais engraçado - para não dizer o mais cínica e
lamentavelmente deslavado - é que eles vão lá para ganhar dinheiro à
custa da Igreja, e ainda querem dizer como o padre deve presidir a
Santa Missa ou assistir ao matrimônio.
Torço pelo dia em que a
Igreja, de modo sereno e competente, chegue a gerir sua própria casa,
também nesses momentos, sem precisar de vândalos interesseiros que
muito perturbam o interior da igreja, quando, na verdade, deveriam
favorecer o silêncio e a dignidade do ambiente sagrado ou o lugar do
culto, onde está o Senhor presente na Eucaristia.

Ora, se a gente vai ao cinema e não pode dar um "pio"; no
teatro, exigem educação, silêncio e respeito durante a apresentação. Da
mesma forma, quando se mora num apartamento, há um horário limite para
determinados barulhos. Assim como, se alguém vai ter um encontro com
uma pessoa que a julga importante, não vai com a primeira roupa que
encontra pendurada no cabide do guarda-roupa. Certo dia, encontrei um
jovem que foi à Missa vestindo uma camiseta regata. Então,
perguntei-lhe: "Por que você não veio mais composto?" E ele respondeu:
"Deus quer é o coração, não a veste". Sua falsa lógica provocativa não
me dispensou imediato acinte: "Se é assim, por que não veio nu?!". Se
alguém não sabe, os especialistas em etiqueta afirmam que esse tipo de
roupa não combina com nenhum evento social, a não ser com esporte e
lazer.
No fundo, o que falta é um pouco de bom senso e
respeito pelas pessoas ao redor, e, de modo muito mais especial ainda,
pelo Cristo, o Dono da Igreja, presente no Sacrário. Incrível
como nossa mediocridade e banalidade encontram justificativas e
desculpas para tentar impor nossas razões hipócritas e incoerentes. E o
que dizer dos aborrecimentos com os atrasos, considerados por alguns de
"chiques"!?. Falta de educação e respeito nunca foram "chiques" em
lugar nenhum. Infelizmente, fomos mal-acostumados com o incisivo e
provocante rifão do "atrasar é chique!". Entendo que nem tudo poder
ser, rigorosamente, vivido na dinâmica respeitosa da pontualidade, mas,
atrasar mais de meia hora, deixando o sacerdote esperando como um
pateta, já é abuso. Agora, se for o padre quem atrasar, depois que os
noivos e convidados tiveram entrado na igreja, coitado dele! Já tivemos
sérios problemas por conta disso. Mas, os direitos deveriam ser iguais,
quer dizer, direitos e deveres.
Quem não cumpre os deveres, deveria perder todos os direitos
se não for capaz de encontrar legítimas e convincentes explicações para
o seu atraso. De fato, esse é um problema que está presente na
leviandade de muitas pessoas que não prezam por seus compromissos como
deveriam, tratando-os com reverência e honradez. No aeroporto de
Brasília (DF), presenciei uma confusão instantânea feita por um casal
que, chegando depois do tempo previsto para o embarque, não o fizeram e
perderam o direito para alguém que já estava na fila de espera havia
mais de duas horas. A balbúrdia, a gritaria e o descontrole foram
notáveis no balcão de controle do embarque. Eles dançaram o "samba do
caboclo doido", mas não viajaram. A orientação é para que se chegue,
pelo menos, uma hora antes, em voos nacionais e, duas, em voos
internacionais. No caso, da Igreja, que, graças a Deus, não vai decolar
para lugar nenhum, o ideal seria que o padre se atrasasse tanto tempo
quanto os noivos atrasam, depois do horário marcado e previsto para o
início da celebração. Aliás, quando isso acontece por alguns minutos,
os ânimos se sublevam e se agitam se o padre não aparecer logo. Sendo
que a celebração do Matrimônio é um momento muito importante na vida de
todos, dos noivos aos seus familiares e convidados, a exigência do
diálogo se faz necessária com todos os envolvidos na esteira da
preparação e da realização do evento, a fim de que tudo aconteça na
mais absoluta e desejada ordem. Com efeito, o casamento não é apenas um
encontro social, em que nos produzimos para sair bem na foto e,
consequentemente, no álbum. É mais do que isso, é um Sacramento que os
noivos recebem prometendo respeito e fidelidade recíprocos por toda a
vida. E, para tal atitude, contam com a graça recebida pelo Sacramento
da Igreja.
Os sacerdotes não somos funcionários da arbitrariedade e da
incompetência de quem não leva a sério a responsabilidade de seus
compromissos, querendo transformar a Igreja "na casa da mãe Joana",
onde cada um faz o que quer, quando quer e pensa que pode. Nosso desejo
é que a reflexão ajude-nos a rever nossos conceitos e valores quando
nos aproximamos das coisas sagradas da Igreja de Cristo, no intento de
não entregarmos "pérolas aos porcos" (cf. Mt 7,6). Embora pareça dura,
a expressão é de Cristo Jesus, ensinando aos Apóstolos o santo dever da
consciência de não profanar as coisas santas de sua própria e amada
Igreja.
Padre Gilvan Rodrigues dos Santos
Mestre em Teologia Bíblica- Pontifícia Univ. Gregoriana Roma