“Fala-se, com insistência, em opção por “uma Igreja dos pobres”. A expressão é ambígua. Se ela é tomada no sentido de um paradigma – eles, como sinal divino, os preferidos do Senhor – está absolutamente correta. No entanto, não é raro a sua manipulação para propagar um conceito classista na comunidade eclesial, alheio a mais lídima concepção do cristianismo.
Assim, a preferência pelo empobrecido é, no fundo, a aversão ao rico, a escolha de um determinado sistema econômico que leva a propagar, até subliminarmente, uma luta de classes, o oposto à comunhão pregada pelo Salvador.
O injustiçado vem a ser um instrumento para atingir objetivos nada evangélicos. Manipula-se até a Sagrada Escritura: o Êxodo, por exemplo, é interpretado à luz de uma ideologia alheia à pureza da Revelação.
A defesa do oprimido serve, por vezes, para forjar uma pregação e atitudes contrárias aos ensinamentos do Presépio.
A caridade que atende o necessitado é julgada com desconfiança, pois seu exercício protela a mudança de estruturas. No entanto, constitui um crime deixar alguém ficar na miséria para o apressamento de uma “revolução” que levaria a uma utópica igualdade futura. E a isso procura-se rotular com o nome de “autenticidade cristã” ou “cristianismo social”.
O mesmo acontece com uma certa defesa dos direitos humanos, quando se circunscreve a interesses bem definidos e escusos. Os demais são entregues ao esquecimento, geralmente pobres e sem rendimento, em favor de propósitos ideológicos. E a lista poderia continuar. Sempre subjaz uma hipocrisia.”
Dom Eugênio Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro
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