Com toda a Igreja confesso que Maria, não sendo mais que uma simples criatura saída das mãos do Altíssimo, é menor que um átomo, ou antes, não é nada em comparação com a sua Majestade infinita, visto que só Deus é “Aquele que é” (Ex 3,14). Por conseguinte, este grande Senhor, sempre independente e bastando-se a si mesmo, não teve nem tem absoluta necessidade da Santíssima Virgem para o cumprimento dos seus desígnios e para a manifestação da sua glória. Basta lhe querer para tudo fazer.
No entanto, supostas as coisas como são, tendo Deus querido começar e acabar as suas maiores obras pela Virgem Santíssima depois de a formar, digo que é de crer que não mudará de procedimento em todos os séculos. Ele é Deus e não muda nem nos seus sentimentos nem na sua conduta.
Deus Pai não deu ao mundo o seu Unigênito senão por Maria. Por mais ardentes que fossem os suspiros dos patriarcas e as súplicas que durante quatro mil anos lhe fizeram os profetas e os santos da Antiga Lei para obterem esse tesouro, só Maria o mereceu. Só Ela encontrou graça diante de Deus pela força das suas orações e pela grandeza das suas virtudes. Diz Santo Agostinho que, não sendo o mundo digno de receber o Filho de Deus diretamente das mãos do Pai, este o deu a Maria, para que os homens o recebessem por Ela. O Filho de Deus fez-se homem para nos salvar, mas foi em Maria e por Maria. Deus Espírito Santo formou Jesus Cristo em Maria, mas só depois de lhe ter pedido o consentimento por um dos primeiros ministros de sua corte.
Deus Pai, para dar a Maria o poder de produzir o seu Filho e todos os membros do seu Corpo Místico, comunicou-lhe a sua fecundidade, na medida em que uma simples criatura a podia receber.
Como o novo Adão ao seu paraíso terrestre, assim desceu Deus Filho ao seio virginal de Maria para aí achar as suas delícias e operar, às escondidas, maravilhas de graça.o Deus feito homem encontrou a sua liberdade em se ver aprisionado no seio dela; fez brilhar a sua força, deixando-se levar por essa jovem virgem. Achou a sua glória e a de seu Pai, escondendo os seus esplendores a todas as criaturas da terra, para só os revelar a Maria; glorificou a sua independência e majestade, dependendo desta amável virgem na sua concepção, nascimento, apresentação no templo, na sua vida oculta de trinta anos e, até, na sua morte. Maria devia assistir a essa morte, porque Jesus quis oferecer com Ela um mesmo sacrifício e ser imolado ao Eterno Pai com seu assentimento, como outrora Isaac também fora imolado à vontade de Deus pelo consentimento de Abraão. Foi Ela que o amamentou, nutriu, sustentou, criou e sacrificou por nós.
Ó admirável e incompreensível dependência de um Deus! Nem o Espírito Santo a pode ocultar no Evangelho para nos mostrar o seu valor e glória infinita, embora tenha escondido quase todas as maravilhas operadas pela Sabedoria encarnada durante a sua vida oculta. Jesus Cristo deu mais glória a Deus Pai pela sua submissão a Maria durante trinta anos do que lhe teria dado se convertesse toda a terra operando os maiores prodígios. Oh! Quão altamente glorificamos a Deus, quando nos submetemos, para lhe agradar, à Virgem Santíssima, a exemplo de Jesus Cristo, nosso único modelo!
Se examinarmos de perto o resto da vida de Jesus, veremos que Ele quis iniciar os seus milagres por Maria. Santificou São João no seio de sua mãe, Santa Isabel, pela palavra de Maria. Logo que Ela falou, João ficou santificado; e este foi o primeiro milagre de Jesus na ordem da graça. Nas bodas de Cana, Jesus mudou a água em vinho, atendendo ao humilde pedido de sua Mãe; e este foi o seu primeiro milagre na ordem natural. Começou e continuou os seus milagres por Maria; por Ela os continuará até ao fim dos séculos.
Tratado da Verdadeira Devoção – São Luís de Monfort
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