quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Homilia para o Domingo 16 de setembro



Dia 16 de setembro de 2012
Evangelho segundo S. Marcos 8,27-35.

Início do Evangelho de Jesus, O Messias e Filho de Deus (Mc 1,1).  Assim é aberto para nós o Evangelho de Marcos.  Ao longo de todo o seu relato, Marcos vai fortalecendo esta afirmação de seu primeiro versículo. Para isto, o seu Evangelho está dividido basicamente em duas partes. A primeira delas explora a afirmação de que Jesus é o Messias, o Ungido! A segunda parte apresenta Jesus como o Filho de Deus e está afirmação é feita por um pagão (15,39). Cumpre-se assim toda a estrutura da Revelação da Palavra de Deus, que brota do mundo hebreu e se estende aos confins da terra.             
Neste domingo, o Evangelho nos insere no contexto da conclusão da primeira parte do Evangelho de Marcos e mais uma vez, poderemos perceber uma dupla finalidade do Evangelho neste relato: primeiro o debate acerca da identidade de Jesus e depois uma apresentação da identidade dos discípulos. Todavia, antes de falar sobre a identidade de Jesus, o relato nos coloca diante de um desafio: perceber o que o mundo no qual vivemos tem a dizer sobre Jesus.  Esta atenção ao mundo é necessária se quisermos despertar o desejo de que mais e mais pessoas façam um encontro verdadeiro com a Palavra de Deus que é capaz de mudar vidas e renovar esperanças.                                       
  A pergunta de Jesus aos Discípulos é feita no caminho. Já aqui temos um dado significativo, o caminho como símbolo da existência e mais profundamente, da existência cristã, já que este era um dos primeiros nomes do movimento de Jesus. Em nosso contexto de Igreja, devemos estar atentos aos que vão passando por nosso caminho, cada um com uma expectativa e também uma visão sobre Jesus. Todas as respostas dadas pelo povo colocam Jesus no âmbito da Profecia. Dois profetas são destacados: João Batista, o anunciador da necessidade de conversão, rejeitado e perseguido, injustamente assassinado. E Elias, o profeta que enfrentou as divindades pagãs e por fim, arrebatado aos céus, anunciado como profeta que antecede a vinda do Messias.  
  Depois de ouvir o que os de fora pensam sobre ele, Jesus deseja saber o que os seus discípulos pensam. É a conclusão de uma etapa que passou de um momento de entusiasmo dos seus seguidores para uma crise tanto nos seguidores quanto nas autoridades religiosas. É um auto exame de consciência para aqueles que com ele caminharam até então.

Homilia para Evangelho do dia 16 de setembro



A resposta é dada por Pedro “Tu és o Messias!” o relato de Marcos é mais breve que o de Mateus e serve a um propósito pedagógico. A resposta abarca as expectativas do povo judeu de que um Ungido viria em nome de Deus. Fechamos a primeira parte do Evangelho e esta repete o que já apareceu no primeiro versículo. Todavia, o Messias Jesus não é como Pedro imaginava e aqui passamos para a segunda parte do relato. O discípulo deve sempre escutar a Palavra de Jesus. Retoma-se aqui o desejo de Cristo de que uma vez chamados, fiquemos com ele, convertamos nossa vida a ele! (Mc 3,14) e para tanto, é necessário que convertamos nosso jeito de ver Jesus. Seu ensinamento é escandaloso, porque toda a glória humana e toda pretensão soberba devem se chocar contra o mistério da cruz. Somente na cruz do Senhor encontramos glória. E como a Igreja nasce do Mistério de Cristo, ela é naturalmente uma Igreja de con-crucificada.                                                                                                          
 Sendo a Igreja nascida da Cruz do Senhor, ela sempre será o meio pelo qual deveremos nos deixar julgar, permitindo que Cristo siga o seu caminho. O Evangelho do domingo passado e o de hoje tem um ponto em comum: Jesus retira o surdo com dificuldade de falar do meio do multidão, e hoje é Pedro quem faz o mesmo com Jesus, com motivações diferentes, a de Jesus é converter e a de Pedro neste momento é tomar a frente de Jesus. A tentação de Pedro será sempre a nossa: desejar conduzir Jesus por nossos caminhos, construindo dele uma imagem que é na verdade nossa. Parece insuportável a ideia de um sofrimento para Cristo porque na verdade desejamos que nossa vida seja livre de todo sofrimento. Diante desta tentativa de redirecionamento, Jesus reage com tom severo: “Para trás, Satanás, porque os teus pensamentos não são de Deus e sim dos homens”.                                                                                
 Com esta afirmação Marcos nos mostra o critério para o verdadeiro discipulado: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, vai  perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la”.        
 Nosso lugar é após Cristo, ele segue à frente e abre o caminho, renunciando a nós mesmos, somos por ele encontrados! Aqueles que desejam salvar a vida de acordo com os critérios do mundo, irão perdê-las, mas os que a entregarem a Cristo a salvarão porque apenas no momento em que descobrimos quem é Jesus em nossas vidas, poderemos compreender quem somos e quais os planos de Deus para nós!                                                                             


Abre-te! Meditação sobre o Evangelho de Marcos



A nossa Igreja vem vivendo o Sínodo em preparação para a celebração de seus 100 anos. E este mês comumente é dedicado à Palavra de Deus. No mês de outubro, a Igreja abrirá o Ano da Fé! Esta porta pela qual todos entramos na comunhão com Cristo, é aberta para nós por meio dos Sacramentos da Iniciação Cristã. Este é um tempo propício para meditarmos sobre nossa vocação como Igreja Particular uma vez que para que nossa fé se fortaleça e nossa consciência cristã se torna límpida, é necessário uma purificação pela Palavra de Deus, é necessário que se abram nossos ouvidos e nosso coração! Neste domingo somos colocados diante de Marcos 7,31-37, uma verdadeira catequese sobre a nova Criação inaugurada por Jesus.
A pergunta central do Evangelho de Marcos é Quem é Jesus? Já no versículo primeiro ele nos oferece a resposta: Início do Evangelho de Jesus, o Messias e Filho de Deus. Ao longo de todo o Evangelho estaremos em  uma grande jornada na qual o autor vai nos mostrando de forma pedagógica a justificativa desta afirmação sobre Jesus.  Consequentemente, da pergunta sobre a identidade de Jesus nos virá outra, e esta é  sobre a identidade dos discípulos. Este relato pode ser compreendido a partir destas duas perguntas, assim, encontramos aqui uma dupla finalidade neste relato: a primeira delas consiste em apresentar Jesus como o artífice de uma nova criação e a segunda, uma imagem acerca do significado do discipulado.
 Sobre a primeira parte, devemos perceber que a cura do surdo que tinha dificuldades para falar deve ser lida no contexto do Evangelho do domingo passado no qual Jesus derruba a barreira entre o puro e o impuro e consequentemente a distinção entre Judeus e Pagãos, fazendo da Salvação um dom universal.  Esta universalidade se expressa primeiramente pelo local onde a cura acontece, estamos com Jesus em um ambiente pagão.  A expressão “Jesus faz bem todas as coisas” encontra paralelo com “Deus viu que era bom” presente no livro do Gênesis em sete ocasiões do primeiro capítulo (Gn 1,4.10.12.18.21.25.31). Em Gênesis, estamos diante do ato criador de Deus, que em sua bondade expressou toda a sua vontade. Agora, com o evangelista Marcos, estamos diante da eficaz Palavra de Jesus que restaura o que o pecado esmagou e devolve à criação a ordem desejada por Deus.
  Mais do que um milagre, este relato quer nos falar sobre a restauração de tudo trazida por Jesus. A nova ordem das coisas, o reinado de Deus, a novíssima criação em Cristo.  Sobre a identidade dos discípulos, ou a identidade da Igreja de Jesus, esta se revela por meio da Palavra do próprio Jesus. Esta ação da Palavra está expressa na riqueza dos sinais presentes neste trecho do Evangelho.

Abre-te - Meditação sobre o Evangelho de Marcos Parte II



O processo da cura é um processo de iniciação cristã e este se desenvolve a partir de passos. O primeiro deles é a retirada do homem do meio da multidão. Em Cristo somos retirados do local onde nos encontramos porque o lugar onde nos encontramos pode gerar distância da Palavra de Deus. Em outra perspectiva, retirar da multidão para trazer para junto de si é a mensagem do primeiro passo neste processo de iniciação. Neste gesto simples, estamos diante de um convite para uma mudança de vida, ou seja, Conversão. Este foi o primeiro anúncio feito por Jesus no Evangelho escrito por São Marcos (1,15).  No segundo passo, Jesus coloca o dedo no ouvido do surdo, para que se abra! Esta é uma necessidade na vida de todos nós. Sempre precisaremos que o Senhor nos toque os ouvidos para alcançarmos a força viva de sua Palavra semeada em nossas vidas! O terceiro momento é a saliva de Jesus colocada na língua do homem. Após purificar os ouvidos, é necessário que purifiquemos nossas línguas para que transmitam a Palavra de Jesus.
 O quarto passo é a oração de Jesus. O gesto de olhar para o céu aparece aqui, na multiplicação dos pães e na Última Ceia, por ocasião da Instituição da Eucaristia. É a comunhão entre o Céu e a Terra mediada pela Palavra de Deus feita carne. O quinto passo é a ordem dada ao homem: “abre-te” . A abertura à qual Jesus se refere é do homem inteiro! A abertura dos ouvidos para a Palavra de Deus, leva o homem a falar sem nenhum tipo de dificuldades. Talvez agora se esclareça para nós o significado da crítica de Jesus aos mestres da Lei: honram-me com os lábios, mas o coração está longe de mim!
Para os profetas, tanto a surdez quanto a cegueira são símbolos da resistência a Deus (Is 6,9;42,18; Jr 20-23; Ez 12,2). Por isso, esta é uma figura significativa do Evangelho de Marcos por representar todos aqueles que endurecem seus ouvidos à Palavra de Deus. São Paulo já nos alertara que “A fé vem da pregação e a pregação é pela palavra de Cristo” (Rm 10,17). Desta maneira, sem atenção à Palavra de Cristo, não há como alimentar a nossa fé e sem alimentarmos nossa fé, nossos ouvidos se fecharão e nossos lábios terão dificuldades em falar sobre as maravilhas do Senhor.
            Em um longo caminho a percorrer devemos sempre pedir a Cristo que sua Palavra nos abra os ouvidos, faça arder nossos corações para que nossa língua seja portadora de uma Boa Nova para um mundo carente de Paz, de Pão e principalmente do Amor de Deus!



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Meditações sobre o ser cristão no mundo: Igreja que nasce da Cruz do Senhor


A Igreja é o povo que viu brilhar a luz de Cristo e por meio dele saiu das trevas e veio para a sua luz. Para sua comunidade dos discípulos-missionários, Cristo deixou sua Paz, primeiro fruto do Ressuscitado para os seus e a plenitude de Seu Espírito. É o povo que o Pai escolheu, convocou, reuniu, redimiu, santificou e enviou para continuar a missão de Jesus.
Pelo Batismo somos todos nós incorporados à Igreja de Cristo. E Nele, temos a mesma vocação a única esperança, e a firme certeza de que “há um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4,5). Constituídos como povo de Deus a caminho, somos o corpo do qual Cristo Jesus é a Cabeça (cf. 1 Cor 12,27). “Pois fomos todos batizados num só Espírito, para ser um só corpo, e todos bebemos de um só Espírito” (1Cor 12,13).
É por meio da Igreja que a missão de Cristo continua e assim se expressa a vontade do Pai que é de reunir em Cristo todas as coisas (Ef 1,9-10). Iluminada pela luz de Cristo, a Igreja é chamada a ser sempre luz para os povos. À medida que levar adiante a missão de Jesus, a Igreja se constitui como sinal de salvação para todos os homens.

Meditações sobre o ser cristão no mundo: Igreja ícone da Trindade


A Igreja é o sacramento da unidade da Trindade, e, nela, com os seres humanos e dos seres humanos entre si. Pelo sacramento do batismo todos somos inseridos nesta Igreja de Comunhão. Toda a ação pastoral da Igreja tem a missão de sensibilizar os cristãos para nossa realidade de Corpo de Cristo, uma comunidade de fé, de vida no amor fraterno (LG n. 8-9). Assim como o Apóstolo Paulo nos aconselha que embora sendo muitos membros e diferentes funções, muitos dons e carismas, somos um só Corpo em Cristo e por isso todos irmãos conforme a graça conferida (Rm 12, 4ss). 
A Igreja não é uma massa amorfa, é Povo de Deus cujo poder está no serviço especialmente ao menor e aos últimos. Uma Igreja que se propõe a grande missão de alimentar a fé, e recordar a seus fiéis, que em virtude de seu batismo, todos são chamados a manifestar em todos os continentes uma Igreja toda ministerial. O modelo para nós é o mistério de amor da Santíssima Trindade. Este mistério de amor constitui o seu ser. A meta para nossa vida de Igreja consiste em alcançar a comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
O nosso tempo se caracteriza pela tendência de se estabelecer uma religiosidade desligada da dimensão comunitária, trata-se um Cristianismo sem Igreja, mas é preciso destacar que a comunhão fraterna numa comunidade concreta é o que distingue a experiência da vocação cristã de um sentimento religioso individual. É nela que se realiza a experiência de fé dos discípulos-missionários (cf. DAp 164). A Igreja é a comunidade dos filhos e filhas de Deus que fazem parte do mesmo Corpo de Cristo (cf. 1Cor 10,17), que se deixam transformar pelo ensinamento dos apóstolos, não se deixam manchar pelas divergências e põem em comum o pão e as orações (cf. At 2,42).
A Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia”. É o coração dos sacramentos e da vida da Igreja, a Ceia com o Senhor e o dom de Deus e a Deus. Por isso é o momento mais precioso ao qual não se pode negar uma vida cristã. É o que mais caracteriza a expressão católica. Por isso, cada comunidade quando se reúne no Dia do Senhor, deve ter o direito de escutar a palavra e a sua interpretação, e de participar na Eucaristia. “A Igreja que a celebra é ‘casa e escola de comunhão’, onde os discípulos compartilham a mesma fé, esperança e amor a serviço da missão evangelizadora” (DAp 158). Em obediência ao novo mandamento do amor, procuram viver unidos à mesma Cabeça, Cristo, chamados a cuidar uns dos outros (cf. DAp 161).
O aspecto missionário que é parte constitutiva da missão da Igreja, é também oriundo da comunhão trinitária. O amor de Deus que se reflete nas expressões de comunhão, atrai as pessoas para o Cristo (cf. Jo 13,34-35). Para que a Igreja evangelize, é necessário que ele dê testemunho sincero de fraternidade, à luz das primeiras comunidades como encontramos expresso no Livro dos Atos dos Apóstolos. Não existe discipulado se não existir comunhão. Todavia, a comunhão não é nivelação das diferenças, mas justamente comunhão de diferenças pois a diferença não é sinal de desigualdade e sim de riqueza. A “comunhão e a missão estão profundamente unidas entre si. A comunhão é missionária e a missão é para a comunhão” (CHL 32, in DAp 163).
A diversidade de serviços e carismas exercidos por uma diversidade de filhos e filhas de Deus é o grande sinal de comunhão: “Cada batizado é portador de dons que deve desenvolver em unidade e complementaridade com os dons dos outros, a fim de  formar o único Corpo de Cristo, entregue para a vida do mundo. Cada comunidade é chamada a descobrir e integrar os talentos escondidos e silenciosos com os quais o Espírito presenteia aos fiéis” (DAp 162).
A nossa vida de cristãos, carregada de diversidade e riqueza das pessoas que estão reunidas em torno de Cristo se torna um fardo pesado a ser carregado a partir do instante em que os dons são vistos como propriedades de quem os exerce e como superiores aos demais presentes na mesma comunidade. Todavia, quando se observa que os dons que trazemos são tesouros de Deus em potes de argila, e portanto, quem nos presenteou é mais importante e que os outros dons são tão importantes quanto os nossos, expressamos o pleno sentido da comunhão: intimidade com Cristo. Jesus mostra isso, quando chama os Apóstolos a viverem em comunhão com ele, quando os reúne para explicar-lhes os mistérios do Reino de Deus e os envia em missão (cf. DAp 154). Esta intimidade se tornará absoluta “na comunhão dos santos, ou seja, a comunhão nos bens divinos entre todos os membros da Igreja, em particular entre os que peregrinam e os que já gozam da glória celeste” (DAp 160).