quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Homilia para o dia 23 de Setembro



A Palavra de Deus que se fez carne, julga diariamente os que desejam se fazer palavra para o mundo! E neste julgamento, os discípulos ficam calados ao serem interrogados por perceberem a distância existente entre suas vidas e a de Jesus neste momento. Então deste julgamento, o Senhor nos oferece mais uma lição: “Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos.”     
 À luz da vida do mestre que sempre foi entrega, o discipulado é igualmente serviço a Deus e ao mundo inteiro! Sem espaço para pretensões ou busca de vantagens oferecidas por este mundo. O final do Evangelho é a apresentação de uma criança como modelo, mas como pode ser uma criatura tão frágil e pequena, modelo do verdadeiro discípulo de Cristo?  E a resposta será simples: pela mesma fragilidade e dependência. Aquele que se faz pequeno, torna-se sinal do Cristo que se fez igualmente pequeno e obediente até a morte (Fl 2,7-8)
A presença desta criança mostra aos discípulos que a eles é necessária conversão, porque o jeito deles pensarem o Reino era ainda muito terrestre e limitado. Porque nos planos divinos de realização do Reino se encontra o sofrimento, o abandono, a morte e apenas depois de tudo isso, a Glória da Ressurreição, tendo Jerusalém como ponto de partida e de lá se estendendo a todo o mundo! Tal presença nos mostra ainda o que nós somos diante de Jesus porque os mais frágeis e sofredores deste mundo não tem como retribuir os benefícios que recebem do mesmo jeito que nenhum de nós tem como retribuir toda doação de Deus que ao se fazer pobre, tornou-nos ricos por sua pobreza, como bem nos ensina Santo Atanásio!                                                                                          
A grandeza da Palavra se revela tão sublime a ponto de se rebaixar ao mais extremo sem perder sua grandeza, mas ao contrário, dando dignidade ao que abraça nesta sua descida! E se nós desejarmos, ao longo de nosso caminho, servir a Cristo, é necessário que nos tornemos crianças, dependentes de Cristo, de seu amor, da sua entrega, fortalecidos pela sua Palavra, uma Palavra humilde que entrega a Deus todos os corações que a ela se abram!

Homilia para o Domingo 16 de setembro



Dia 16 de setembro de 2012
Evangelho segundo S. Marcos 8,27-35.

Início do Evangelho de Jesus, O Messias e Filho de Deus (Mc 1,1).  Assim é aberto para nós o Evangelho de Marcos.  Ao longo de todo o seu relato, Marcos vai fortalecendo esta afirmação de seu primeiro versículo. Para isto, o seu Evangelho está dividido basicamente em duas partes. A primeira delas explora a afirmação de que Jesus é o Messias, o Ungido! A segunda parte apresenta Jesus como o Filho de Deus e está afirmação é feita por um pagão (15,39). Cumpre-se assim toda a estrutura da Revelação da Palavra de Deus, que brota do mundo hebreu e se estende aos confins da terra.             
Neste domingo, o Evangelho nos insere no contexto da conclusão da primeira parte do Evangelho de Marcos e mais uma vez, poderemos perceber uma dupla finalidade do Evangelho neste relato: primeiro o debate acerca da identidade de Jesus e depois uma apresentação da identidade dos discípulos. Todavia, antes de falar sobre a identidade de Jesus, o relato nos coloca diante de um desafio: perceber o que o mundo no qual vivemos tem a dizer sobre Jesus.  Esta atenção ao mundo é necessária se quisermos despertar o desejo de que mais e mais pessoas façam um encontro verdadeiro com a Palavra de Deus que é capaz de mudar vidas e renovar esperanças.                                       
  A pergunta de Jesus aos Discípulos é feita no caminho. Já aqui temos um dado significativo, o caminho como símbolo da existência e mais profundamente, da existência cristã, já que este era um dos primeiros nomes do movimento de Jesus. Em nosso contexto de Igreja, devemos estar atentos aos que vão passando por nosso caminho, cada um com uma expectativa e também uma visão sobre Jesus. Todas as respostas dadas pelo povo colocam Jesus no âmbito da Profecia. Dois profetas são destacados: João Batista, o anunciador da necessidade de conversão, rejeitado e perseguido, injustamente assassinado. E Elias, o profeta que enfrentou as divindades pagãs e por fim, arrebatado aos céus, anunciado como profeta que antecede a vinda do Messias.  
  Depois de ouvir o que os de fora pensam sobre ele, Jesus deseja saber o que os seus discípulos pensam. É a conclusão de uma etapa que passou de um momento de entusiasmo dos seus seguidores para uma crise tanto nos seguidores quanto nas autoridades religiosas. É um auto exame de consciência para aqueles que com ele caminharam até então.

Homilia para Evangelho do dia 16 de setembro



A resposta é dada por Pedro “Tu és o Messias!” o relato de Marcos é mais breve que o de Mateus e serve a um propósito pedagógico. A resposta abarca as expectativas do povo judeu de que um Ungido viria em nome de Deus. Fechamos a primeira parte do Evangelho e esta repete o que já apareceu no primeiro versículo. Todavia, o Messias Jesus não é como Pedro imaginava e aqui passamos para a segunda parte do relato. O discípulo deve sempre escutar a Palavra de Jesus. Retoma-se aqui o desejo de Cristo de que uma vez chamados, fiquemos com ele, convertamos nossa vida a ele! (Mc 3,14) e para tanto, é necessário que convertamos nosso jeito de ver Jesus. Seu ensinamento é escandaloso, porque toda a glória humana e toda pretensão soberba devem se chocar contra o mistério da cruz. Somente na cruz do Senhor encontramos glória. E como a Igreja nasce do Mistério de Cristo, ela é naturalmente uma Igreja de con-crucificada.                                                                                                          
 Sendo a Igreja nascida da Cruz do Senhor, ela sempre será o meio pelo qual deveremos nos deixar julgar, permitindo que Cristo siga o seu caminho. O Evangelho do domingo passado e o de hoje tem um ponto em comum: Jesus retira o surdo com dificuldade de falar do meio do multidão, e hoje é Pedro quem faz o mesmo com Jesus, com motivações diferentes, a de Jesus é converter e a de Pedro neste momento é tomar a frente de Jesus. A tentação de Pedro será sempre a nossa: desejar conduzir Jesus por nossos caminhos, construindo dele uma imagem que é na verdade nossa. Parece insuportável a ideia de um sofrimento para Cristo porque na verdade desejamos que nossa vida seja livre de todo sofrimento. Diante desta tentativa de redirecionamento, Jesus reage com tom severo: “Para trás, Satanás, porque os teus pensamentos não são de Deus e sim dos homens”.                                                                                
 Com esta afirmação Marcos nos mostra o critério para o verdadeiro discipulado: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Na verdade, quem quiser salvar a sua vida, vai  perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la”.        
 Nosso lugar é após Cristo, ele segue à frente e abre o caminho, renunciando a nós mesmos, somos por ele encontrados! Aqueles que desejam salvar a vida de acordo com os critérios do mundo, irão perdê-las, mas os que a entregarem a Cristo a salvarão porque apenas no momento em que descobrimos quem é Jesus em nossas vidas, poderemos compreender quem somos e quais os planos de Deus para nós!                                                                             


Abre-te! Meditação sobre o Evangelho de Marcos



A nossa Igreja vem vivendo o Sínodo em preparação para a celebração de seus 100 anos. E este mês comumente é dedicado à Palavra de Deus. No mês de outubro, a Igreja abrirá o Ano da Fé! Esta porta pela qual todos entramos na comunhão com Cristo, é aberta para nós por meio dos Sacramentos da Iniciação Cristã. Este é um tempo propício para meditarmos sobre nossa vocação como Igreja Particular uma vez que para que nossa fé se fortaleça e nossa consciência cristã se torna límpida, é necessário uma purificação pela Palavra de Deus, é necessário que se abram nossos ouvidos e nosso coração! Neste domingo somos colocados diante de Marcos 7,31-37, uma verdadeira catequese sobre a nova Criação inaugurada por Jesus.
A pergunta central do Evangelho de Marcos é Quem é Jesus? Já no versículo primeiro ele nos oferece a resposta: Início do Evangelho de Jesus, o Messias e Filho de Deus. Ao longo de todo o Evangelho estaremos em  uma grande jornada na qual o autor vai nos mostrando de forma pedagógica a justificativa desta afirmação sobre Jesus.  Consequentemente, da pergunta sobre a identidade de Jesus nos virá outra, e esta é  sobre a identidade dos discípulos. Este relato pode ser compreendido a partir destas duas perguntas, assim, encontramos aqui uma dupla finalidade neste relato: a primeira delas consiste em apresentar Jesus como o artífice de uma nova criação e a segunda, uma imagem acerca do significado do discipulado.
 Sobre a primeira parte, devemos perceber que a cura do surdo que tinha dificuldades para falar deve ser lida no contexto do Evangelho do domingo passado no qual Jesus derruba a barreira entre o puro e o impuro e consequentemente a distinção entre Judeus e Pagãos, fazendo da Salvação um dom universal.  Esta universalidade se expressa primeiramente pelo local onde a cura acontece, estamos com Jesus em um ambiente pagão.  A expressão “Jesus faz bem todas as coisas” encontra paralelo com “Deus viu que era bom” presente no livro do Gênesis em sete ocasiões do primeiro capítulo (Gn 1,4.10.12.18.21.25.31). Em Gênesis, estamos diante do ato criador de Deus, que em sua bondade expressou toda a sua vontade. Agora, com o evangelista Marcos, estamos diante da eficaz Palavra de Jesus que restaura o que o pecado esmagou e devolve à criação a ordem desejada por Deus.
  Mais do que um milagre, este relato quer nos falar sobre a restauração de tudo trazida por Jesus. A nova ordem das coisas, o reinado de Deus, a novíssima criação em Cristo.  Sobre a identidade dos discípulos, ou a identidade da Igreja de Jesus, esta se revela por meio da Palavra do próprio Jesus. Esta ação da Palavra está expressa na riqueza dos sinais presentes neste trecho do Evangelho.

Abre-te - Meditação sobre o Evangelho de Marcos Parte II



O processo da cura é um processo de iniciação cristã e este se desenvolve a partir de passos. O primeiro deles é a retirada do homem do meio da multidão. Em Cristo somos retirados do local onde nos encontramos porque o lugar onde nos encontramos pode gerar distância da Palavra de Deus. Em outra perspectiva, retirar da multidão para trazer para junto de si é a mensagem do primeiro passo neste processo de iniciação. Neste gesto simples, estamos diante de um convite para uma mudança de vida, ou seja, Conversão. Este foi o primeiro anúncio feito por Jesus no Evangelho escrito por São Marcos (1,15).  No segundo passo, Jesus coloca o dedo no ouvido do surdo, para que se abra! Esta é uma necessidade na vida de todos nós. Sempre precisaremos que o Senhor nos toque os ouvidos para alcançarmos a força viva de sua Palavra semeada em nossas vidas! O terceiro momento é a saliva de Jesus colocada na língua do homem. Após purificar os ouvidos, é necessário que purifiquemos nossas línguas para que transmitam a Palavra de Jesus.
 O quarto passo é a oração de Jesus. O gesto de olhar para o céu aparece aqui, na multiplicação dos pães e na Última Ceia, por ocasião da Instituição da Eucaristia. É a comunhão entre o Céu e a Terra mediada pela Palavra de Deus feita carne. O quinto passo é a ordem dada ao homem: “abre-te” . A abertura à qual Jesus se refere é do homem inteiro! A abertura dos ouvidos para a Palavra de Deus, leva o homem a falar sem nenhum tipo de dificuldades. Talvez agora se esclareça para nós o significado da crítica de Jesus aos mestres da Lei: honram-me com os lábios, mas o coração está longe de mim!
Para os profetas, tanto a surdez quanto a cegueira são símbolos da resistência a Deus (Is 6,9;42,18; Jr 20-23; Ez 12,2). Por isso, esta é uma figura significativa do Evangelho de Marcos por representar todos aqueles que endurecem seus ouvidos à Palavra de Deus. São Paulo já nos alertara que “A fé vem da pregação e a pregação é pela palavra de Cristo” (Rm 10,17). Desta maneira, sem atenção à Palavra de Cristo, não há como alimentar a nossa fé e sem alimentarmos nossa fé, nossos ouvidos se fecharão e nossos lábios terão dificuldades em falar sobre as maravilhas do Senhor.
            Em um longo caminho a percorrer devemos sempre pedir a Cristo que sua Palavra nos abra os ouvidos, faça arder nossos corações para que nossa língua seja portadora de uma Boa Nova para um mundo carente de Paz, de Pão e principalmente do Amor de Deus!